A história da televisão brasileira começa alguns anos antes do sinal da TV Tupi entrar no ar em São Paulo. Em 1946, o governo Dutra distribuiu as concessões do país e o Diários Associados iniciou a construção da torre para a TV Tupi canal 6. A intenção era fazer da capital federal o ponto de partida para o novo veículo de comunicação no país. Mas, uma equipe de técnicos dos Estados Unidos constatou que o Morro do Pão de Açúcar, em função da topografia da cidade, não era o local ideal para instalar os transmissores da primeira emissora de televisão da América Latina.
Os profissionais americanos aconselharam adiar a inauguração até se encontrar uma região melhor para a torre da Tupi. Mas, Chateaubrinad não queria perder a oportunidade de entrar para a história. Ele sabia que os Estados Unidos estavam patrocinando a chegada da televisão em Cuba para o Natal de 1950. Decidiu, então, focar os investimentos em São Paulo, também beneficiado com uma concessão para o canal 3.
O empresário atuou muito nos bastidores e, por sua influência, o governo brasileiro adotou o mesmo sistema norteamericano para as transmissões da televisão brasileira. A distribuição das emissoras em 12 canais VHF, do 2 ao 13. Chateaubriand só não conseguiu ser o primeiro da América Latina. No dia 31 de agosto de 1950, o jornalista Rómulo O’Farril Sênior inaugurou o canal 4 da Cidade do México.
Tudo muito rápido
A implantação da televisão em São Paulo usou boa parte das instalações da rádio Tupi, no Sumaré, com os estúdios e as centrais de produção. Enquanto a torre com os transmissores erguida no topo do edifício do Banco do Estado, no centro da capital paulista. O local passou por reforma alguns anos depois e, com o crescimento da TV Tupi e o fim da era de ouro do rádio, a estrutura da televisão se sobrepôs ao restante do grupo.
Alguns poucos profissionais ligados ao rádio, entre eles Cassiano Gabus Mendes, Álvaro de Moya e Francisco Dorce, pensavam nas atrações da inauguração do novo veículo de comunicação. Os técnicos aprendiam tudo sobre câmeras, microfones e iluminação. Três grandes testes (transmissões experimentais) aconteceram com os profissionais da RCA que orientavam quem trabalharia na televisão.
O primeiro aconteceu no Hospital das Clínicas, em 15 de junho, com a gravação do “Vídeo Educativo” para exibições no mês seguinte. No dia 07 de julho, no Auditório do Masp, o Frei Mojica foi a estrela da noite assistida por poucas pessoas, afinal só havia aparelhos funcionando no saguão do prédio e na Praça Dom José Gaspar. O terceiro grande teste aconteceu às vésperas da aguardada inauguração da televisão brasileira. No dia 10 de setembro, o então Arcebispo da Arquidiocese de Aparecida do Norte, Dom Carmelo Vasconcelos, abençoou os estúdios e na sequência entrou no ar um filme sobre Getulio Vargas, que retomava sua vida política.
Chegou a noite da grande estreia
Passados os testes, as transmissões experimentais, os treinamentos técnicos e a benção aos estúdios, chegou o tão esperado 18 de setembro de 1950. Às 16 horas, uma pequena cerimônia religiosa comandada pelo bispo auxiliar de São Paulo, Dom Paulo Rolim Loureiro, seguida pelos discurso de Assis Chateaubriand e mensagem do presidente da RCA Victor Corporation, David Sarnoff. Também participaram deste evento a poetisa Rosalina Coelho Lisboa Larraigoti, a madrinha da televisão, o Embaixador do Brasil em Washington, o governador de São paulo, Lucas Nogueira Garcez e os apresentadores Homero Silva e Lia de Aguiar. Enquanto isso, os artistas, cantores e apresentadores que apareceriam no show inaugural realizaram o último ensaio e se prepararam para a grande estreia.
"Este texto contém trechos do livro Biografia da Televisão Brasileira, dos jornalistas Flávio Ricco e José Armando Vannucci