O último capítulo de Vale Tudo trouxe muitas discussões sobre a novela, principalmente no quanto ela se aprofundou nos temas atuais do país. Em 1988, a trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères colocou o dedo na ferida ao questionar a corrupção e as desigualdades. Além disso, apontou para o único caminho viável para o Brasil: a ética. E, a partir da boa teledramaturgia nos colocou para refletir se realmente vale tudo para se dar bem na vida. E, em seus últimos capítulos, foi cruel ao deixar claro que os poderosos sempre serão privilegiados.
Lá em 1988, Vale Tudo também teve audiências mais mornas em suas primeiras semanas e ganhou público à medida que ampliava todas as discussões éticas. E, vamos combinar, no final daquela década ainda era muito complicado abordar alguns temas. Mas, com ousadia e muita habilidade os três autores colocaram na tela um retrato interessante do Brasil. Papel importante da teledramaturgia.
Agora, em 2025, Vale Tudo trouxe outras temáticas, entre elas a ascensão feminina, os efeitos climáticos e as responsabilidades das empresas com o meio ambiente. Além disso, a era dos influenciadores e da exposição constante de um mundo cheio de filtros. Mas, o telespectador sentiu falta de uma crítica social, olhar para o momento político e discutir a polarização da sociedade.
Cautela com o público?
A Vale Tudo de 2025 reflete muito bem o que acontece com o mercado audiovisual no mundo. Os diretores e produtores dos grandes estúdios de Hollywood ou das TVs aqui no Brasil olham para os resultados. O que vale é a bilheteria ou audiência, que reflete no faturamento. Quanto mais público, maior a receita. E nessa questão, a novela termina com recorde absoluto de faturamento. E o elenco agradece pelos cachês extras gerados com a publicidade. Ou seja, a Globo realizou uma novela sem os temas que pudessem afastar um dos lados dessa plateia polarizada para garantir audiência alta e, assim, ganhar mais com seus anunciantes.
Mas, se Vale Tudo acertou ao não arriscar e assim faturar, deixou passar uma boa oportunidade de tratar dos temas delicados, mas necessários. Entretanto, no último capítulo duas sequências chamaram atenção do telespectador: a conversa de Ivan com o pai sobre o que funciona no Brasil e a prisão domiciliar de Marco Aurélio por problemas de saúde. Somente no episódio derradeiro vimos a ousadia da autora e direção ao propor uma reflexão sobre os dias atuais do país.
Provocações ou discussões necessárias?
A conversa entre Ivan e Bartolomeu sobre o Brasil que dá certo reservada ao último capítulo poderia ter acontecido muito antes no lugar de algumas questões levantadas por Afonso. E mesmo que levasse parte do público a reagir contra, a novela cumpriria um importante papel ao abrir uma discussão atual. O mesmo podemos dizer sobre a prisão e, logo depois, o benefício de Marco Aurélio. Ao sair debilitado da prisão, mesmo sem nenhum problema de saúde, Vale Tudo nos mostra um recurso muito utilizado pelos poderosos do Brasil. E aqui não tem só a classe política, mas de muitos empresários que recorrem a esses argumentos.
Na Vale Tudo de 2025, a noite de prazer de Marco Aurélio com Leila com tornozeleira eletrônica representou muito melhor o Brasil atual. Em 1988, fugir e dar uma “banana” para o país em pleno voo retratava os poderosos da época. Agora, Vale Tudo para se beneficiar com uma tornozeleira e não perder o luxo, os privilégios e o prazer. E, assim, a teledramaturgia mostra que nada mudou no Brasil nos últimos 37 anos. Apenas, atualizamos a forma.
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