A recontratação de autoras consagradas pela Globo se transformou no grande assunto nos corredores e produções da emissora. Christianne Fridman e Ana Maria Moretzsohn voltarão para supervisionar novos projetos e Lícia Manzo estará envolvida com o roteiro de um novo filme. Para muitos, a volta das três indica a revisão de estratégias da teledramaturgia da Globo, que apostou em profissionais mais jovens nos últimos anos. Além disso, colocou muita gente em regime “por obra”. Para outros, um sinal de que gênero ganhará mais espaço no Globoplay e, como consequência, na TV aberta.
Essas recontratações deixam muito claro que a direção da teledramaturgia da Globo busca corrigir os problemas que o setor enfrenta nos últimos anos, principalmente na faixa das 21h30. Em 2021, Um Lugar ao Sol deu o primeiro susto. Trama pós pandemia fechou com 22 pontos de média, a pior audiência desde Babilônia. A queda nos números pode ter sido resultado do processo de produção da novela, que entrou no ar absolutamente gravada para evitar problemas com a possível volta do confinamento.
Pantanal até deu um respiro, afinal num período ainda com reflexo da pandemia, o público desejava horizontes mais amplos. Entretanto, na sequência, Travessia não segurou os mesmos resultados e fechou com 24 de média, quatro pontos a menos que o remake de Benedito Ruy Barbosa. Mas, em 2023, a Globo teve dois grandes sustos. Fuzuê marcou 19,3 pontos, a pior audiência na faixa das 19h nos últimos dez anos. E Elas por Elas, que chegou a colocar a Globo com apenas 10 pontos em alguns dias na Grande São Paulo. Na média geral, o remake amargou 15 pontos, pelo menos cinco pontos abaixo do desejado para o horário.
Apostas erradas
Hoje, muitos diretores na Globo reconhecem que nos últimos quatro nos houve uma série de escolhas ruins na dramaturgia da emissora. Além disso, nesse período foram três remakes na faixa das 21h30 (Pantanal, Renascer e Vale Tudo) e uma às 18h (Elas por Elas). Ao revisitar quatro antigos sucessos num período tão pequeno, o alto comando da Globo sinalizou para a crítica e público que não havia textos inéditos interessantes o suficiente para serem produzidos. Para muitos, um sinal de crise no setor.
Além disso, neste mesmo período, a Globo colocou em prática uma grande reestruturação na teledramaturgia. A emissora reduziu seu banco de elenco e colocou muitos atores e autores em “contrato por obra”. E mais: ajustou a produção de novelas. Agora, os textos são entregues com maior antecedência para diminuir o custo da trama. Ou seja, o que vai para o ar é quase uma obra fechada, com maior dificuldade para ajustes a partir da reação do público. Mania de Você é o melhor exemplo disso.
Correções de Rota
Depois das quedas de audiência em seus três horários, a Globo conseguiu corrigir os horários das 18h e 19h. Além disso, acertou com o Vale a Pena Ver de Novo. Depois do fiasco de Elas por Elas, Mário Teixeira foi convocado para escrever No Rancho e, na sequência, Alessandra Possi com Garota do Momento. As duas conseguiram registar boa audiência e conquistaram o público e a crítica.
Em 2023, Vai na Fé apontou um caminho interessante para as novelas das 19h. Mas, Fuzuê não foi tão bem e em sua sequência entrou no ar Família é Tudo. A novela de Daniel Ortiz fechou com 20,7 de média geral, um índice ainda considerado abaixo do ideal. Volta por Cima caiu para 19,7 de média. Apesar da queda de audiência, o alto comando da Globo avaliou, pelo menos oficialmente, novela como dentro do novo patamar para o horário.
Aparentemente, a Globo se mostra satisfeita com o ajuste das duas primeiras faixas de novelas inéditas. Entretanto, nos Estúdios Globo muitos afirmam que ainda falta uma melhor avaliação de sinopses e, principalmente, acompanhamento do trabalho realizado pelos autores. Ninguém fala abertamente, mas muitos ressaltam que toda a estrutura criada e dias amontada por Silvio de Abreu perdeu força nos dias atuais. Por isso, a volta de Cristianne Fridman, Ana Maria Moretzsohn e Lícia Manzo é comemorada e apontada como um sinal de que um novo (antigo) olhar está em vigor no gênero dramaturgia. A pergunta que fica é se haverá uma recuperação no prestígio das novelas da Globo, principalmente na faixa das 21h30