Os merchans garantem muito dinheiro para as emissoras de TV e um bom cachê para os apresentadores. Além disso, há profissionais específicos para essas propagandas. Os anunciantes gostam desse tipo de anúncio, afinal tem o depoimento de uma pessoa muito famosa sobre seu produto. Mas, não pense que os merchans são um jeito moderno de vender na TV. Muito pelo contrário: os merchans existiam desde a origem da televisão no Brasil.
As primeiras garotas propaganda surgiram praticamente um ano após a inauguração da TV Tupi em São Paulo e alguns meses da chegada da filial no Rio de Janeiro. Com o aumento no número de telespectadores nas duas cidades e a grande repercussão dos programas nas revistas e jornais, cresceu consideravelmente o interesse de anunciantes na nova mídia. Mas, eles não se contentavam com a exibição de slides e cartões desenhados com o nome da loja e o produto em promoção. A imagem parada com uma locução em off já não atendia às necessidades de um público que queria mais e dos comerciantes que a cada dia programavam uma nova promoção.
Os diretores da TV Tupi desenvolveram, então, uma ação diferente onde uma linda e jovem mulher mostraria para os telespectadores as vantagens de comprar o produto que estava em suas mãos ou numa bancada instalada no estúdio. Era uma forma barata, mas com mais requintes do que os cartões desenhados, de atrair mais publicidade para a emissora.
O primeiro anúncio ao vivo
O primeiro anúncio com uma garota-propaganda aconteceu em 1951 e foi algo revolucionário na televisão. Pontualmente às 20h, Rosa Maria entrou no ar para anunciar a oferta da Marcel Modas. Essa loja feminina que atendia na Rua Augusta, onde estavam localizadas naquela época as grandes grifes. No dia seguinte, vendas aumentaram consideravelmente e os donos da magazine resolveram colocar outra promoção. E gerou mais movimento e levou Marcel a ocupar por muitos anos o espaço das 20h na Tupi.
Boa noite, senhores telespectadores. Eis aqui a Tentação do Dia
Rosa Maria ao vivo
A câmera cortava para o produto em promoção, que podia ser uma camisola, blusa, saia, vestido ou acessórios. No dia seguinte seria disputada pelas donas de casa que estavam à frente da televisão pontualmente às oito da noite. Com a imagem no vídeo, Rosa Maria falava sobre as características do produto, cores disponíveis, suas vantagens e, é claro, o preço, sempre melhor do que o da concorrente. No final do texto explicativo, foco na garota propaganda, que encerrava o anúncio ao vivo.
Não é mesmo uma tentação?
Rosa Maria
A propaganda feita com uma apresentadora era algo ousado na televisão, mas que esbarrava em alguns tabus e respeitava normas de comportamento. Quando a “Tentação do Dia” era uma calcinha ou sutiã, a câmera mostrava apenas uma caixinha delicadamente decorada e cabia a Rosa Maria descrever o produto com muita discrição, afinal, na década de 1950, até nas lojas as roupas íntimas ficavam num local mais reservado para que a consumidora não se intimidasse ao escolher uma peça que não deveria ser vista por ninguém, às vezes nem pelo próprio marido.
Estas e outras histórias estão no livro Biografia da Televisão Brasileira, que escrevi com Flávio Ricco.