Edifício Master mostra o cotidiano de moradores que vivem em moradias conjugadas no bairro de Copacabana, zona sul do Rio. O documentário, lançado no último fim de semana na Netflix, e que já está entre os mais assistidos do canal, chama para a reflexão. Diferentes e simples histórias de vida são mostradas e emocionam pela diversidade.
Embora só agora no streeming, a produção é de 2002 e recebeu o Kikito de Ouro de Melhor Documentário no Festival de Gramado e o Prêmio de Melhor Documentário pela crítica da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Ao longo de uma semana, o cineasta Eduardo Coutinho (1933 – 2014) e sua equipe conversaram com alguns dos moradores de um grande e icônico edifício de apartamentos no bairro mais famoso da Cidade Maravilhosa. As histórias vão sendo contadas a cada visita da equipe no interior da kitnet do morador, que vira personagem nas filmagens. Como a de um casal de meia-idade que se conheceu através dos classificados de um jornal, uma garota de programa que sustenta a filha e a irmã, um ator aposentado, um ex-jogador e treinador de futebol que desconfia ser filho biológico de seu pai adotivo. Tem ainda uma professora de inglês com dificuldades no convívio social, uma senhora que passa os dias tocando seu teclado e o ex-funcionário de uma empresa aérea americana que se emociona ao escutar e cantar a música My Way, de Frank Sinatra.
O que chama a atenção nos 212 micro apartamentos – 28 por andar – é a falta de espaço, tanto para objetos pessoais quanto para as memórias de seus moradores. A vida solitária, saudosismo, luta pela sobrevivência mental e financeira, embora as moradias, de carca de 20 metros quadrados, seja num bairro nobre carioca, é bem evidente. Chega a ser curioso que pessoas optem por morar em espaços tão reduzidos apenas por um CEP da mundialmente famosa Copacabana. Mas esse tipo de moradia nem sempre é provisório. O documentário mostra casos de pessoas que praticamente nasceram ali e nunca mais saíram. E cita constates óbitos de idosos, que só são encontrados após os vizinhos sentirem sua ausência circulando pelo edifício.
Uma moradora conta que o Edifício Master, no passado, foi muito mal freqüentado e acumulava escândalos envolvendo prostituição, drogas, bebedeiras e crimes. Mas os atuais condôminos garantem que hoje o prédio está bem mais familiar. Pelo menos o atual síndico luta pela reputação do lugar.
Vamos combinar que a fotografia do documentário não é, digamos, glamourosa como o Hotel Copacabana Palace e os milionários edifícios à beira mar, mas a ideia de entrar nos apartamentos e ouvir as histórias dos moradores do Master prende muito a atenção e aguça a curiosidade do telespectador. Por isso, vale bastante assistir ao documentário com ares de reality show e conhecer esse universo escondido em tantos outros prédios baixa renda da icônica Copacabana.