Terra e Paixão, a substituta da novela Travessia, chegou em maio com missões para cumprir. De anos para cá, Walcyr Carrasco foi o responsável por salvar o horário mais nobre da maior emissora do país. E sempre lograva êxito. Não à toa, suas novelas carregadas de clichês (bons) sempre angariava mais público e elevava os índices de audiência.
Nos últimos 10 anos o autor coleciona sucessos. Amor à Vida (a novela do Felix) foi sucesso, bem aceita e esticada ao máximo. Entregou para Em Família, na época, um horário com bons números. Em 2012, o autor foi responsável pela releitura de Gabriela e fez desse já sucesso de Jorge Amado uma espécie de celeiro de tipos inesquecíveis, como a Quitéria, de Laura Cardoso. Assim como Gabriela, Verdades Secretas, novela das 23h, foi um sucesso avassalador. Dessa vez, a crítica especializada cedia à história e foi uma de suas mais elogiadas novelas. 2016, ele volta ao horário que o consagrou, 18h, dessa vez com Etâ Mundo Bom. Nos anos seguintes, O Outro Lado do Paraíso e A Dona do Pedaço faziam sucesso nas redes sociais e com números muito bons.
O efeito tempo
Os sucessos depunham a favor de Walcyr Carrasco. E citar que tal próxima novela será dele é esperar por um novelão do jeito que o povo gosta. Com a atual Terra e Paixão não foi diferente. Substituir a sofrível Travessia parecia ser tarefa fácil, mas não foi. Hoje a TV enfrenta uma concorrência massiva das redes sociais e o streaming está cada vez mais avançando na predileção do grande público.
Pesquisas apontam que a Globo lidera, mas há plataformas em seu retrovisor, e, em alguns dias, essa distância diminui drasticamente. Outros tempos não se falava em outra coisa, mas hoje temos concorrência, e das grandes.
O produto mais rentável da emissora sofre há algum tempo para emplacar um sucesso genuíno, desses que na estreia já pega. É preciso ajustes e cortes para atender a demanda da novela que já está no ar. Nada mais funcional do que um autor que entende o público
A novela das 21h
Terra e Paixão estreou em 08 de maio com a história central que girava em torno de Aline, uma moça que vive às turras com donos de terra e que se vê sem nada, mas com uma gana de vencer na vida, plantando e colhendo. Logo no início, a audiência caiu. A novela enfrentou fuga, desinteresse do público, a mocinha “não colou” e para um início de história, isso é assombroso. Ajustes foram feitos, os diálogos autoexplicativos, marca do autor, foram logo extirpados, pois houve reclamação do público já habituado com o ritmo de séries. Uma semana da virada da história foi programada para alavancar números e chamar a atenção. Mas, nada chamou mais a atenção do público do que um certo casal, que diferente de Aline e Caio, já ganhou o público logo de cara: Kelvin e Ramiro.
Além das expectativas
Kelvin tinha tudo para ser mais um gay estereotipado na novela, mas os tempos mudaram e o rapaz, além de trambiqueiro, tinha um humor que foi reformulado durante a trama, ganhando contornos mais sérios para ajudar a compor o personagem, que a certa altura, tinha dado certo. Ao lado de Kevin, Ramiro, um peão da fazenda de Antonio La Selva que, além de ser durão, tinha um certo desprezo por Kevin. As coisas foram mudando e na medida que a novela sofria alterações, a história de ambos foi se fortalecendo. Kevin ganhou mais espaço e Ramiro contornos de um assassino à espera dos mandos de Irene.
Idas e vindas, o casal finalmente se beijou no capítulo de Terça Feira e levou a web ao delírio. É a certeza de que o casal de fato foi o ponto alto da novela e que a sociedade, mudada em seus costumes, só não aceita como enaltece diferentes tipos de amor. Sinais de novos tempos.