TV aberta está acabando? Clássicos mexicanos no horário nobre do SBT

Vannucci Responde reúne perguntas sobre novelas, SBT e crise na TV aberta e streaming

José Armando Vannucci
José Armando Vannucci - José Armando Vannucci
12 Min Read
Anna e Paulo em cena do primeiro capítulo de A Caverna Encantada, novela do SBT

Esta edição do Vannucci Responde traz perguntas sobre a dramaturgia do SBT, principalmente sobre a parceria para a produção de novelas. A crise na TV aberta e o futuro do streaming também estão entre as perguntas enviadas pelos internautas.

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O Vannucci Responde em texto é publicado todos os domingos aqui no site. No Canal do Vannucci no Youtube são postados três vídeos por semana, com perguntas que chegam através das redes sociais @javannucci ou no espaço reservado aos comentários no vídeo.

Boa leitura e quero saber sua opinião.

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Olá Zé Armando, tenho muitos questionamentos sobre a reticência do SBT em exibir os grandes clássicos no horário nobre: seria por faturamento ou qualidade de imagem? Sei que os executivos gostam de conteúdo inédito, mas nas últimas tentativas, como as exibições da nova versão de “A Usurpadora” e “Se Nos Deixam” a audiência não correspondeu. Por que não tentam exibir “A Usurpadora”, “Maria do Bairro” ou sucessos mais recentes como “Teresa” e “Coração Indomável” no prime time? Tieta tem sido um exemplo de sucesso na Globo.

@ademir7847

Muitos executivos de TV acreditam que, ao exibir uma novela inédita internacional em seu horário nobre, você assume publicamente que não possui capacidade para produzir dramaturgia própria e de qualidade. Por isso, nos últimos anos o SBT evitou tramas mexicanas no prime time, principalmente com o êxito de suas histórias infanto-juvenis. Entretanto, o formato parece ter se esgotado e uma variedade pode ser muito interessante para a emissora.

Força de Mulher faz sucesso na Record e prova que para o público o que interessa é a história ser boa e envolvente. Sei que, recentemente, as novelas mexicanas mais atuais não funcionaram muito bem no SBT. Sobre isso, conversei com algumas pessoas e entendo que os noveleiros andam questionando os atuais textos e com o desejo de rever antigos trabalhos. Você deu um exemplo muito certeiro. Tieta levou um novo público para as tardes da Globo e só reforçou que o que desejamos é uma boa história.

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Mas, Tieta não está no prime time. Será que se ela fosse exibida no horário nobre teria tamanha aceitação? Ou seja, dá uma longa conversa sobre a teledramaturgia. Entretanto, diante do atual cenário e da necessidade de frear a queda de audiência, o SBT pode e deve arriscar com um clássico no horário noturno. Se não der certo, só se inspirar em Silvio Santos e alterar a faixa de exibição.

Vannucci, cresci vendo novelas no SBT. Amava as tramas mexicanas e assisti a maior parte das versões que a emissora fez dos originais Televisa. Para mim, a joia dessa coroa é Esmeralda, que ficou tão boa, ou quiçá melhor que a original. Apesar disso, na maioria dessas tramas achava o roteiro cópia e cola, faltavam algumas tintas mais brasileiras ali naqueles originais. Na atualidade, com tanta gente boa disponível no mercado – atores, diretores, autores etc. – não seria viável, adaptando à realidade atual de custos, produção em parceria, de retomar a dramaturgia adulta da emissora?

@guilherme_morais

Lá no SBT já se discute a produção de uma novela mais adulta, mas voltada para toda a família. Daniela Beyruti não quer uma dramaturgia excludente, mas sim que possa reunir à frente da tela crianças, jovens, adultos e pessoas mais velhas. Até onde sei, a sinopse da próxima novela de Íris Abravanel já segue nesse pensamento. Para que isso se torne realidade, o departamento de dramaturgia do SBT terá que olhar diferente para a concepção de cenários, figurinos e dinâmicas.

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Além disso, o SBT já discute com a produtora de Boninho a viabilidade da produção de uma novela mais compacta. Esse é um processo que demora um pouco, afinal, o planejamento orçamentário precisa ser muito bem realizado para evitar surpresas mais adiante.

O SBT não descarta fechar parcerias com plataformas de streaming para ser a segunda tela para séries ou novelas. Definitivamente, a emissora parece caminhar para um novo jeito de realizar, produzir e exibir sua programação. Vejo sinais bem positivos.

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Por que o SBT não adapta as novelas de Janete Clair que já tem os direitos e joga as infantis que estão indo mal pro +SBT? As infantis fazem sucesso no digital. As obras Janete Clair são excelentes.

Jacó Batista

Os textos que o SBT adquiriu de Janete Clair foram criados para o rádio e, por isso, necessitam de muitas adaptações. Talvez sirvam como ponto de partida para novas tramas, isso se reunirem algumas sinopses numa só. As radionovelas possuem uma narrativa mais simples, com menos personagens e com duração menor.

Realmente, as tramas infantis do SBT garantem ótimos resultados nos serviços de streaming. O melhor exemplo disso foi o fato da Disney comprar a novela A Caverna Encantada sem saber muitos detalhes da trana, muito antes de sua estreia.

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Um cenário diferente para a televisão

Assisti recentemente uma fala de Lisbeth Tebollo (brasileira, presidente da Associação Internacional de Críticos de Arte) que dizia que quem está acabando com a TV aberta é a própria TV aberta. Segundo ela, quando os streamings começaram a fazer sucesso, durante e após a pandemia, as emissoras começaram a querer contra-atacar tentando oferecer o mesmo conteúdo do digital na TV. Esse contra-ataque foi cheio de imediatismo, sem planejamento, com erros grotescos. Prova disso foi distribuir influenciadores na programação, mudar a linguagem das telenovelas, mudar configurações de programas, etc. O que foi claramente rejeitado pelos telespectadores.

Com o passar do tempo, os streamings estão virando cada vez mais TV aberta. Exemplo disso é a produção de novelas, compra de eventos ao vivo como shows, torneios esportivos e briga por direitos de campeonatos. Em breve teremos estreias de jornais ao vivo sobre o tempo na Netflix, o que pode ser a porta de entrada para outros noticiosos. Com base no ponto de vista dela, você acha que pra TV voltar a crescer ela só precisa realmente voltar a ser TV aberta? Se sim, por que as TVs estão tendo tanta dificuldade?

Ulisses Rocha

Essa crise na TV aberta não é um fenômeno brasileiro. No mundo inteiro os grupos de comunicação enfrentam uma grande transição. A audiência dos canais abertos e pagos já vinha caindo alguns anos antes da pandemia, mas esse processo foi acelerado quando houve a necessidade de paralisar produções. Com as reprises na TV, muita gente foi para o conteúdo no streaming, que para muitos tinha gosto de inédito. O telespectador mudou seu comportamento.

Quando a TV voltou a produzir, os executivos estavam impactados pela queda da audiência da TV linear e aumento vertiginoso do digital. E perderam o olhar que tinham. Ficaram tão preocupados com o digital que deixaram de fazer o que sempre conquistou o telespectador. E para pior, o mercado publicitário pulverizou ainda mais suas verbas. A televisão demorou para entender que precisava produzir mais e melhor com menos dinheiro e que necessitava se mostrar nova, sem deixar suas características.

O primeiro movimento foi apostar cada vez mais no ao vivo. Entretanto, olharam errado novamente. Criaram muitos jornais e todos muito iguais. Essa grade ao vivo poderia muito bem ter diversidade, com produtos de entretenimento ao vivo e conteúdo realmente relevante. Mais do mesmo contribuiu para afastar mais uma parcela do público, principalmente os mais jovens que não querem a mesmice.

É nítido que a televisão perdeu a capacidade de surpreender o público com novidades. Para não ter prejuízos, os produtores só autorizam os criadores a desenvolverem projetos já testados ou com elementos de sucesso do passado. Ou seja, não há o ineditismo, o surpreendente, a ousadia.

Muitos executivos acreditaram que, já que as redes sociais atraíram tantas pessoas, o ideal era contratar os influenciadores, principalmente os mais jovens para atrair essa audiência mais jovem. Esqueceram de algumas coisas. Esses influenciadores estão acostumados com falas e conteúdos curtos e, portanto, possuem uma dificuldade maior na TV aberta, que exige maior entrega e mais tempo. Além disso, os mais velhos que estão à frente da TV não conhecem, em sua maioria, essa nova turma do digital. Com isso, há um afastamento. E o principal: TV aberta é TV aberta. Sim, pode apostar em influenciadores, desde que façam conteúdo para televisão e não redes sociais.

Exemplos claros

A televisão sempre apostou no novo e em novos talentos, mas sempre com o apoio dos artistas consagrados. Essa mescla sempre foi o sucesso.

A Globo tem perdido audiência para o digital aos domingos, principalmente antes do Domingão com Huck. Mania de Você perdeu público, mas esse telespectador não foi para a Record ou SBT. Foi atrás de dramaturgia no digital. E por que isso aconteceu? Porque Mania de Você não apresentou logo de início os elementos clássicos do folhetim da TV aberta.

Ao mesmo tempo, as plataformas de streaming enfrentam um momento mais complicado. Muitos grupos concentraram seus serviços numa única plataforma, reviram assinaturas, formas de produção e parcerias com emissoras de TV. O ritmo de crescimento diminuiu, muitas assinaturas canceladas e aumentaram as reclamações de repetição nas temáticas das séries.

Ou seja, assim como a TV aberta precisa entregar TV aberta e encontrar novos caminhos, o digital necessita colocar o pé no chão e produzir melhor.

Participe você também do Vannucci Responde. Você pode mandar perguntas pelas minhas redes sociais (@javannucci) ou deixá-las no espaço de comentários dos vídeos. Todo domingo, aqui no site, tem um versão em texto do Vannucci Responde e lá no canal no Youtube três vídeos por semana. Estou esperando você.

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