A dramaturgia foi um elemento importante no início da história da televisão no Brasil. Como os primeiros profissionais da TV vieram do rádio, onde as novelas diárias faziam enorme sucesso, logo se apostou no gênero. Mas, diante da precariedade das estruturas das emissoras e da obrigatoriedade de tudo ser ao vivo, as adaptações teatrais se tornaram realidade.
As primeiras produções mesclaram os atores populares do rádio com os jovens artistas dos palcos paulistanos. Pequenas adaptações de peças clássicas interpretadas em ato único ou com um intervalo no meio para destacar os patrocinadores da noite. Mas, nesse segmento, no dia 29 de novembro de 1950, entrou no ar o primeiro teleteatro completo da televisão brasileira, com Lia de Aguiar no papel principal de “A Vida por um Fio”, adaptação de Cassiano Gabus Mendes para o filme “Sorry, Wrong Number”.
A história da mulher paralítica que vive sozinha numa cama e tenta avisar a polícia, os amigos e os médicos que um crime acontecerá. Sucesso absoluto e de grande repercussão nos jornais e revistas. Mas, o final surpreendente, com o assassino, pago pelo próprio marido daquela indefesa mulher, estrangulando a vítima com o fio do telefone, foi assunto durante muito tempo entre os telespectadores.
Diante do retorno do público e da crítica, Dermival Costa Lima e Cassiano Gabus Mendes não tiveram dúvidas em criar um horário semanal para os teleteatros. Convocaram Walter George Durst, Walter Foster e Mário Fanucchi para escreverem e adaptarem as peças que seriam exibidas.
Astros e estrelas do teatro na TV
Logo depois desta fase, as principais companhias teatrais conquistarem espaço na TV com versões de seus espetáculos. Além de garantir um dinheiro a mais no mês com o cachê pago pela televisão, esses artistas dos palcos enxergavam a televisão como mais uma forma de atrair plateia para os teatros. ”Nós fizemos dos gregos a Pirandello. Fizemos autos medievais. Viemos pelo tempo afora”, recorda-se cheia de entusiamo. Fernanda Montenegro, foi a primeira contratada da TV Tupi no Rio. Mas, durante três anos, uma segunda-feira por mês desembarcava em São Paulo com a companhia de Morineau para interpretar uma peça completa na sede da paulista da emissora de Assis Cheteaubriant.
“A gente saia do Rio de Janeiro no domingo à noite após o espetáculo e pegava, geralmente, um ônibus e chegávamos pela manhã para ensaiar”
Fernanda Montenegro
À noite, era exibida a peça ao vivo e, no outro dia logo pela manhã, retornavam à capital fluminense. Naquela época, o teatro tinha encenações de terça a domingo e, logo depois do espetáculo embarcavam para a capital paulista.
Entretanto, em 1954, já casada com Fernando Torres, mudou-se para São Paulo para trabalhar com teatro e televisão. Fernanda Montenegro destaca que poucos são os profissionais e estudiosos que reconhecem realmente a importância dos artistas pioneiros dos palcos no desenvolvimento da cultura do folhetim diário.
“Se hoje a dramaturgia de novela é o sustentáculo dessas estações, isso é trabalho de pioneiro que veio do teatro”
Fernanda Montenegro
Procópio Ferreira, Paulo Goulart, Nicete Bruno, Cleide Yacónis, Walmor Chagas, Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Cacilda Becker, Beatriz Segall, Maria Della Costa e Juca de Oliveira são apenas alguns dos artistas de teatro que, no início da televisão, se dividiam entre os palcos e a TV. Contribuíram muito para o desenvolvimento do principal elemento de condução das grades das emissoras brasileiras até os dias atuais e a projeção de nossas novelas para o mundo inteiro.
Esta e muitas outras histórias da Tv estão no livro Biografia da Televisão Brasileira, que eu escrevi junto com Flávio Ricco.