No dia da inauguração da televisão no Brasil, um jovem diretor mostrou sua genialidade ao solucionar um problema que poderia acabar com a festa. Ao saber que uma das câmeras havia pifado, Cassiano Gabus Mendes reuniu todo o elenco no estúdio e refez por completo as marcações ensaiadas.
E, assim, com apenas uma câmera, muito improviso e correria de todos os profissionais o grande espetáculo aconteceu, virou manchete dos jornais no dia seguinte e iniciou uma das histórias mais fascinantes que esta nação já acompanhou. “Ele era extremamente criativo, extremamente competente”, disse Eva Wilma, protagonista de “Alô, Doçura”, uma das criações do mestre da teledramaturgia. “Ele era gênio sem saber”, completou Lolita Rodrigues, uma das estrelas do show inaugural da TV.
As duas atrizes concederam longas entrevistas para o livro Biografia da Televisão Brasileira, dos jornalistas Flávio Ricco e José Armando Vannucci.
Um grande conhecedor das massas brasikeiras
Na década de 50, quando Assis Chateaubriant realizou seu sonho, Cassiano Gabus Mendes conhecia como poucos a comunicação popular de massa. Ele já atuava no rádio e por isso esteve envolvido com os preparativos da programação da primeira noite. E depois, por muitos anos, criou as mais diferentes atrações para a TV, entre teleteatros, seriados, novelas, musicais, programas de auditório e esportivos.
Filho do radialista Octávio Gabus Mendes, um dos principais escritores de radionovelas da época e adaptador dos filmes de sucesso para o rádio, ele acompanhou de perto o trabalho do pai em casa onde eram feitos os textos e nos estúdios quando os artistas davam vida aos personagens e situações criadas diariamente no silêncio da concentração de um ator. “Desde os 13 anos de idade, ele ficava com o pai datilografando o texto. Então, absorveu uma experiência incrível, um poder de descrever situações, o domínio da escrita”, analisou o filho Cássio Gabus Mendes, que, apesar de observar o pai criando muitas novelas, não se transformou em autor, mas num dos melhores intérpretes de sua geração.
Quando passou exclusivamente a escrever novelas, Cassiano manteve o velho hábito do pai de trabalhar sozinho, principalmente entre a noite e a madrugada. Esse era o momento em que a casa estava mais silenciosa.
A explicação para sua genialidade vem através de seu exercício profissional. Cassiano Gabus Mendes foi um pouco de tudo e, fundamentalmente, um observador do ser humano. Ele atuou como roteirista, ator, produtor, diretor, contrarregra e sonoplasta e, com a morte de seu pai, herdou os roteiros originais de grandes sucessos feitos para o rádio e que serviram de inspiração e ponto de partida para muitas obras que assinou em sua carreira.