No início da televisão no Brasil, ator de TV trabalhava pelo famoso “amor à arte” ou para aprender um pouco sobre o novo veículo. Os salários eram baixos e a grande maioria recebia cachês para participar de teleteatros ou novelas. Por isso, os artistas viviam com o dinheiro apertado.
Aos 16 anos de idade, Rolando Boldrin mudou de São Joaquim da Barra para São Paulo, incentivado pelo pai para seguir na carreira musical. Antes, em sua cidade, ele formou com o irmão a dupla sertaneja Boy e Caipira. Nos anos 50, logo depois de servir ao Exército, foi tentar a sorte como ator para poder ganhar algum dinheiro. Fez vários teleteatros ao vivo, em papéis não muito expressivos, afinal, era um dos figurantes da Tupi, ao lado de Fulvio Stefanini e Walther Negrão.
É de Boldrin uma das histórias mais divertidas do livro Biografia da Televisão Brasileira
Durante a realização de “O Grande Amor de Maria Waleska”, no “TV de Vanguarda”, completamente sem dinheiro, Boldrin resolveu pegar um taxi para chegar a tempo no Sumaré, onde ficavam os estúdios da Tupi. Durante todo o caminho, ao mesmo tempo que conversava com o “chofer”, como chamavam o motorista ou taxista antigamente, ele foi maquinando como ia fazer na hora de pagar a corrida, afinal, não tinha muito dinheiro no bolso. Ele só estranhava que o tempo todo era confundido e chamado de Henrique Martins, também artista da Tupi.
Estava aí a solução.
Ao desembarcar no local, Rolando Boldrin pediu que o taxista esperasse um pouco, que ele ia pegar o dinheiro e logo voltaria. E claro que não voltou mais. O motorista ficou ali e, depois de esperar algum tempo, foi à portaria da TV Tupi reclamar que o ator Henrique Martins tinha feito uma corrida com ele e não tinha pago. Foi um tremendo mal-estar, e até um princípio de confusão, até que alguém resolveu chamar o Henrique para resolver o caso e, mesmo explicando a quem o foi chamar que não tinha tomado taxi nenhum, ele foi falar com o motorista. E a conversa foi mais ou menos assim:
– Você está dizendo que peguei teu taxi e não paguei?
– Não foi o senhor, não. Foi o outro Henrique Martins, explicou o taxista.
– Mas, o Henrique Martins sou eu!
Foi o outro Henrique Martins, disse atordoado o taxista.
Se pagou ou não corrida, há controvérsias. A certeza é que o outro Henrique Martins nunca mais apareceu.
Esta e muitas outras histórias da Tv estão no livro Biografia da Televisão Brasileira, que eu escrevi junto com Flávio Ricco.